Dietas restritivas e alimentos milagrosos no câncer: os riscos por trás das promessas perigosas

26 de junho de 2025

No contexto do tratamento do câncer é muito comum que os familiares e pacientes se sintam vulneráveis e busquem qualquer recurso que prometa melhora, alívio e até mesmo a cura. Essa fragilidade, aliada ao excesso de desinformação presente na internet, favorece a propagação de dietas extremamente restritivas, alimentos tidos como milagrosos e outras receitas mágicas.

Esse artigo tem como objetivo esclarecer, com base nas orientações do Instituto Nacional de Câncer (INCA), os principais mitos alimentares que envolvem o câncer e a importância de uma alimentação mais equilibrada e segura durante o tratamento dessa doença.

Carboidratos alimentam o tumor? Mito muito perigoso!

Dizem por aí que pão, arroz, açúcar, frutas são alimentos que favorecem o crescimento do câncer.

O que a ciência diz:

Os carboidratos são componentes essenciais para o bom funcionamento do organismo. Todas as células do nosso corpo, inclusive as saudáveis, dependem de glicose para a produção de energia. Quando esses carboidratos são eliminados da dieta, o corpo passa a utilizar proteínas musculares para manter níveis adequados de glicose, resultando em perda de massa magra e prejuízo funcional.

Além disso, embora as células tumorais utilizem glicose, não existe evidência científica de que restringir esse nutriente interfira positivamente no tratamento do câncer ou até mesmo iniba o crescimento em humanos.

É importante escolher carboidratos de alimentos frescos e evitar os ultraprocessados como biscoitos recheados, refrigerantes, salgadinhos e macarrão instantâneo.

Cortar carboidratos melhora a quimioterapia? A resposta ainda é não

Estudos realizados apenas em animais e culturas celulares indicam que a restrição da glicose pode interferir no crescimento tumoral. Contudo, esses resultados não podem ser generalizados para humanos, pois o nosso corpo é extremamente mais complexo.

Nesse sentido, não há evidência científica suficiente para recomendar a retirada dos carboidratos da dieta como estratégia terapêutica. Pelo contrário, manter uma alimentação adequada e equilibrada é fundamental para sustentar o corpo durante o tratamento e reduzir os efeitos colaterais.

Proteínas animais devem ser evitadas? Não necessariamente.

Outro mito bastante comum é que as proteínas de origem animal, como ovos, laticínios e carnes, alimentam o tumor e devem ser cortadas da dieta. A verdade é que as proteínas são fundamentais para a manutenção da saúde muscular, metabólica e imunológica.

Durante o tratamento do câncer, existe um grande risco de perda de massa magra. Manter o aporte proteico adequado ajuda o paciente a se proteger contra a fadiga, toxicidade do tratamento e perda funcional.

As fontes mais recomendadas são:

  • Proteínas vegetais como feijões, ervilha, lentilha, grão-de-bico e castanhas. 
  • Proteínas animais como carne magra, ovos, peixes e laticínios naturais. 

A recomendação dos profissionais é a limitação do consumo de carnes processadas como salsicha, presunto, bacon e linguiça, que estão muito associadas ao aumento do risco do câncer, além de manter o consumo de carne vermelha no máximo 500 gramas por semana.

Leia também: Como a dieta pode contribuir para o tratamento de câncer?

Alimentos milagrosos curam o câncer? Não existe fórmula mágica

Produtos como chá de graviola, chá verde, noni, entre outros, são frequentemente promovidos como curativos e naturais. Contudo, não existe evidência científica que comprove que qualquer alimento, isoladamente, tem o poder de curar o câncer.

O que é bem estabelecido na atualidade é que a alimentação saudável, variada e colorida pode contribuir para o fortalecimento da imunidade, preservação do estado nutricional e melhoria da resposta ao tratamento.

Riscos da dieta restritiva no câncer

As dietas que eliminam grupos alimentares inteiros, como carboidratos, proteínas animais, alimentos cozidos, entre outros, podem acarretar diversos riscos, como:

  • Desnutrição proteico-calórica 
  • Redução da adesão ao tratamento 
  • Déficit de micronutrientes como vitaminas, ferro, B12 
  • Imunossupressão 
  • Piora do prognóstico clínico 

Por essa razão, antes de seguir qualquer orientação, o paciente deve consultar um nutricionista oncológico habilitado de confiança.

Conclusão

Não existe cura milagrosa. O que existe é um cuidado personalizado e profissional. O uso de dietas restritivas e alimentos milagrosos durante o tratamento do câncer não é só ineficaz, como também pode ser muito perigoso para o paciente. A melhor forma de apoiar o organismo durante esse período é manter uma alimentação equilibrada, baseada em evidências científicas e sempre com a orientação profissional.

Para um plano alimentar individualizado e seguro, agende a sua consulta.

 

Referência bibliográfica:

Instituto Nacional de Câncer (INCA). Dietas restritivas e alimentos milagrosos durante o tratamento do câncer: fique fora dessa!. Rio de Janeiro: INCA, 2018. Disponível em: https://www.inca.gov.br/publicacoes/livros/dietas-restritivas-e-alimentos-milagrosos-durante-o-tratamento-do-cancer-fique-fora

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