Nutricionista para insuficiência cardíaca: estratégias alimentares para melhorar a função cardíaca

10 de outubro de 2025

A insuficiência cardíaca é uma doença crônica e progressiva, caracterizada pela incapacidade do coração de bombear sangue de forma eficiente para atender às necessidades do organismo. Essa disfunção compromete a oxigenação dos tecidos, promove uma cascata de alterações neuro-hormonais e inflamatórias, e favorece o acúmulo de líquidos. O acompanhamento com um nutricionista especializado em insuficiência cardíaca é fundamental para implementar estratégias alimentares que respeitem as necessidades clínicas dos pacientes com essa condição.

De acordo com Khalil et al. (2024), intervenções dietéticas baseadas em restrição de sódio e padrões cardioprotetores estão associadas à melhora dos sintomas e redução de hospitalizações por insuficiência cardíaca. Quando bem orientada, a dieta pode melhorar a função cardíaca, reduzir hospitalizações e contribuir para melhorias funcionais e metabólicas do paciente.

Entendendo a relação entre dieta e insuficiência cardíaca

Na insuficiência cardíaca, o coração perde sua capacidade de manter um débito cardíaco adequado, levando à ativação de mecanismos compensatórios que, a longo prazo, contribuem para a progressão da doença. Entre eles, destacam-se o aumento da resistência vascular periférica, a retenção de sódio e água, e a ativação neuro-hormonal. Nesse cenário, a alimentação se torna uma ferramenta terapêutica indispensável para modular esses processos.

A sobrecarga de sódio, por exemplo, é uma das principais causas de descompensação na insuficiência cardíaca. A ingestão elevada desse mineral aumenta a retenção de líquidos, favorece o edema e agrava sintomas como fadiga e dispneia. A restrição do sódio, quando bem conduzida, reduz o volume extracelular, diminui a necessidade de internações e melhora os sintomas clínicos.

Além do sódio, o controle de eletrólitos como magnésio, potássio e fósforo também deve ser realizado com atenção. A interação entre dieta, medicação e função renal pode levar a desequilíbrios eletrolíticos perigosos. Por essa razão, a avaliação laboratorial regular e a adequação alimentar são indispensáveis.

Nesse contexto, o papel do nutricionista é fazer a ponte entre as necessidades clínicas do paciente e suas escolhas alimentares no dia a dia, promovendo adesão à dieta e manutenção do estado nutricional adequado.

Restrição de sódio: impacto direto nos sintomas

A redução do consumo de sódio é uma das recomendações mais consolidadas para o manejo da insuficiência cardíaca. O excesso desse mineral eleva a pressão arterial, agrava a retenção de líquidos e dificulta o controle dos sintomas. Diretrizes internacionais sugerem limitar o sódio a valores entre 1.500 e 2.000 mg por dia em pacientes com insuficiência cardíaca leve a moderada, sendo necessário ajustar individualmente em casos mais avançados.

Estudos recentes demonstram que a redução do sódio está associada à melhora da classe funcional, menor necessidade de medicamentos diuréticos e redução da pressão arterial sistêmica. Entretanto, essa restrição deve ser equilibrada para não comprometer o apetite, a ingestão calórica e o prazer alimentar.

A maior parte do sódio da alimentação provém de produtos industrializados e processados, como caldos prontos, embutidos, temperos industrializados, molhos, queijos ultraprocessados, pães e refeições congeladas. A orientação nutricional deve focar na leitura de rótulos, uso de temperos naturais, substituições culinárias e incentivo ao preparo caseiro.

O nutricionista também pode avaliar o risco de hiponatremia em pacientes com restrição hídrica severa ou uso intensivo de diuréticos.

Dietas cardioprotetoras: Mediterrânea e DASH no contexto da insuficiência cardíaca

A dieta DASH e a dieta Mediterrânea são padrões alimentares com ampla evidência de benefício na prevenção e tratamento de doenças cardiovasculares, incluindo a insuficiência cardíaca. Ambas compartilham características anti-inflamatórias e antioxidantes que favorecem a saúde endotelial, o controle da pressão arterial e o equilíbrio lipídico.

Essas dietas priorizam o consumo de hortaliças, frutas, azeite de oliva extravirgem, leguminosas, oleaginosas, peixes e cereais integrais. Essa composição promove um perfil alimentar em que polifenóis, ácidos graxos poli-insaturados, fibras solúveis e micronutrientes como magnésio e potássio são consumidos em níveis adequados, atuando na modulação inflamatória e no suporte à função cardíaca.

Já a dieta DASH se destaca pelo controle rigoroso de sódio e ênfase em alimentos ricos em potássio, cálcio e magnésio. Pesquisas demonstram que sua adesão reduz significativamente a pressão arterial, melhora a função ventricular e reduz o risco de eventos cardiovasculares.

Independentemente do caso, a individualização da dieta é fundamental, considerando preferências alimentares, estado nutricional e condição socioeconômica. O nutricionista tem o papel de adaptar os princípios dessas dietas às culturas alimentares dos pacientes, incentivando escolhas práticas, acessíveis e sustentáveis.

Equilíbrio eletrolítico: cuidados nutricionais específicos

O controle do equilíbrio eletrolítico é um desafio constante no manejo de pacientes com insuficiência cardíaca. Isso se deve ao uso de diuréticos e outras medicações que impactam diretamente os níveis séricos de potássio, magnésio e sódio. A dieta deve ser ajustada conforme o quadro clínico, a função renal e os exames laboratoriais.

O potássio tem dupla implicação na insuficiência cardíaca: sua deficiência pode causar arritmias e comprometer a função muscular, enquanto o excesso pode levar à hipercalemia grave, especialmente em pacientes com disfunção renal. Por isso, o nutricionista deve avaliar a ingestão de alimentos ricos em potássio — como frutas, verduras e leguminosas — e ajustá-la conforme necessário.

O magnésio, por sua vez, desempenha papel essencial na função muscular cardíaca e na regulação da excitabilidade elétrica do miocárdio. Sua deficiência, comum em pacientes com insuficiência cardíaca, pode causar arritmias e aumentar a toxicidade de medicamentos como a digoxina.

De acordo com um estudo publicado em 2024 no periódico Clinical Nutrition ESPEN, estratégias alimentares como restrição de sódio, adesão a dietas cardioprotetoras e controle hídrico foram associadas à melhoria da qualidade de vida e à redução de internações em pacientes com insuficiência cardíaca crônica.

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Educação nutricional e acompanhamento contínuo

A adesão à dieta recomendada pelo nutricionista é um dos principais desafios no tratamento da insuficiência cardíaca. A complexidade das orientações, somada às limitações físicas e emocionais dos pacientes, exige uma abordagem educativa prática, sensível e individualizada.

O uso de materiais ilustrativos, sessões educativas, elaboração de cardápios semanais, leitura de rótulos e oficinas culinárias são ferramentas que facilitam a compreensão das recomendações e aumentam a adesão. O foco deve estar na construção de hábitos saudáveis e sustentáveis, evitando dietas extremamente restritivas ou difíceis de manter.

Além disso, o nutricionista avalia o estado nutricional, frequentemente comprometido nesses pacientes. A manutenção de um bom estado nutricional é essencial para evitar complicações e garantir uma resposta positiva ao tratamento.

Como observamos, a alimentação é um dos pilares mais relevantes no manejo da insuficiência cardíaca. Estratégias nutricionais bem orientadas e acompanhadas têm real poder de melhorar a função cardíaca, reduzir sintomas e evitar internações. A atuação ativa do nutricionista é fundamental para transformar recomendações técnicas em práticas viáveis, seguras e promotoras de autonomia para o paciente.

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Referência:

Khalil H, et al. (2024). Dietary management in chronic heart failure: current evidence and recommendations. Heart Failure Reviews.

🔗 https://pubmed.ncbi.nlm.nih.gov/39464682/

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