Desnutrição em Pacientes com Inflamação Crônica: Desafios e Estratégias de Intervenção

31 de julho de 2025

A desnutrição em pacientes com inflamação crônica é um problema de grande relevância clínica, trazendo um impacto significativo na qualidade de vida e na resposta ao tratamento desses pacientes. A interação entre a inflamação e o estado nutricional cria um ciclo prejudicial, no qual a resposta inflamatória compromete a absorção de nutrientes, altera o metabolismo e contribui para a perda de massa muscular e funcionalidade.

A inflamação crônica é um fator determinante na desnutrição, visto que ela altera o metabolismo energético e proteico, levando ao catabolismo exacerbado. Doenças como doença inflamatória intestinal, artrite reumatoide, insuficiência cardíaca crônica e câncer estão frequentemente associadas a um quadro inflamatório persistente, impactando negativamente a nutrição do paciente.

Durante um processo inflamatório, é comum que ocorra uma maior liberação de citocinas pró-inflamatórias, como fator de necrose tumoral alfa (TNF-α) e interleucina 6 (IL-6). Essas citocinas estimulam a degradação proteica e inibem a síntese de proteínas musculares, contribuindo para a perda de massa magra, um dos principais indicadores de desnutrição.

A inflamação também pode comprometer a absorção de nutrientes, afetando a integridade da mucosa intestinal e reduzindo a capacidade de utilizar vitaminas e minerais essenciais. Esse fator agrava a desnutrição e favorece um quadro de deficiência de micronutrientes, causando grande impacto na função imunológica e na recuperação tecidual.

A anorexia induzida pela inflamação é outro fator relevante. A ativação do sistema imunológico afeta os reguladores do apetite no hipotálamo, reduzindo a ingestão de alimentos. Pacientes com inflamação crônica frequentemente apresentam perda de apetite, o que agrava ainda mais o quadro de desnutrição.

Quais os Impactos da Desnutrição em Pacientes com Inflamação Crônica?

A desnutrição em pacientes com inflamação crônica está associada a diversas complicações, como o aumento do risco de infecções, piora na resposta ao tratamento e maior tempo de hospitalização. A perda de massa muscular e sarcopenia são efeitos preocupantes que afetam a capacidade de realizar as atividades do dia a dia.

A queda na reserva de proteínas corporais também afeta a cicatrização de feridas e a recuperação após cirurgias, tornando a nutrição adequada um fator fundamental para o sucesso terapêutico. Pacientes desnutridos apresentam menor tolerância a tratamentos agressivos, como radioterapia e quimioterapia, aumentando a taxa de mortalidade e os riscos do tratamento.

Outro impacto significativo é a redução da imunocompetência. A deficiência de micronutrientes como zinco, ferro e vitaminas A, C e E pode comprometer a resposta imunológica, fazendo com que os pacientes sejam mais suscetíveis a infecções oportunistas. Esse fator é particularmente relevante em doenças inflamatórias intestinais e câncer, onde a imunossupressão pode causar consequências mais severas.

Avaliação Nutricional e Diagnóstico de Desnutrição

O diagnóstico da desnutrição em pacientes com inflamação crônica deve ser feito de forma abrangente, considerando múltiplos fatores, como parâmetros clínicos, laboratoriais e antropométricos. O uso dos critérios GLIM tem se mostrado eficaz na identificação de desnutrição, combinando critérios fenotípicos e etiológicos.

Entre os principais parâmetros avaliados estão a redução de massa muscular, perda de peso voluntária, ingestão alimentar inadequada, redução da massa muscular e a presença de marcadores inflamatórios elevados. A tomografia computadorizada e a bioimpedância elétrica podem ser utilizadas para identificar a composição corporal e detectar a perda muscular de forma precoce.

Alguns exames laboratoriais, como pré-albumina, albumina sérica e proteína C reativa (PCR), são úteis para avaliar o impacto da inflamação no estado nutricional do paciente. Sabemos que uma PCR elevada associada à redução de albumina pode ser um indicativo de um quadro inflamatório severo.

A anamnese nutricional também ajuda a identificar padrões alimentares inadequados e problemas na ingestão de alimentos. Para isso, podem ser utilizados questionários de frequência alimentar, registros alimentares e entrevistas com o paciente.

Estratégia Nutricional para Pacientes com Inflamação Crônica

A intervenção nutricional para pacientes com inflamação crônica deve ser individualizada e focada em minimizar a perda de massa muscular, modular a resposta inflamatória e garantir a ingestão adequada de nutrientes. As dietas ricas em proteínas de alto valor biológico, como peixes, ovos e laticínios, são fundamentais para manter a massa magra.

Ácidos graxos ômega-3, presentes em peixes gordurosos, chia e linhaça, podem ajudar na redução da inflamação, melhorando a resposta do organismo e reduzindo a degradação proteica. Antioxidantes como vitamina C e E auxiliam no combate ao estresse oxidativo e também na manutenção da função imunológica.

Em alguns casos de ingestão insuficiente, pode ser necessária a suplementação nutricional. Fórmulas hipercalóricas e hiperproteicas podem ser utilizadas para pacientes com baixa ingestão alimentar, ou até mesmo a nutrição enteral ou parenteral, para garantir a oferta de nutrientes.

O fracionamento de refeições ao longo do dia é uma abordagem bastante utilizada, ajudando a reduzir os efeitos da anorexia induzida pela inflamação e melhorando a aceitação alimentar. Pequenas porções frequentes, com a inclusão de alimentos de fácil digestão, são estratégias eficazes para aumentar a ingestão calórica e proteica.

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A Importância da Abordagem Multidisciplinar

O manejo da desnutrição associada à inflamação crônica requer uma abordagem multidisciplinar que envolve nutricionistas, médicos, fisioterapeutas e psicólogos. Esse trabalho permite a criação de um plano de tratamento personalizado, que considera as necessidades emocionais, metabólicas e funcionais do paciente.

Nesse sentido, a fisioterapia desempenha um papel essencial. Além de preservar a massa muscular e ajudar na manutenção da funcionalidade, é possível minimizar a perda de força e melhorar a qualidade de vida com exercícios resistidos e atividades adaptadas.

Já o suporte psicológico pode melhorar a adesão ao plano alimentar e reduzir a recusa associada a estados emocionais alterados. Sabemos que muitos pacientes com inflamação crônica podem sofrer alterações no comportamento alimentar devido à dor, fadiga e até mesmo depressão.

Estratégias motivacionais e acompanhamento regular são fundamentais para promover mudanças duradouras nos hábitos alimentares. Para mais informações, agende sua consulta.

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