Nutricionista para insuficiência cardíaca: estratégias alimentares para melhorar a função cardíaca
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As doenças autoimunes são condições caracterizadas por uma resposta imunológica desregulada, na qual o organismo ataca seus próprios tecidos e células, gerando dano estrutural e inflamação crônica. Entre as mais conhecidas estão a esclerose múltipla, o lúpus eritematoso sistêmico, a doença celíaca, a artrite reumatoide, a psoríase e a tireoidite de Hashimoto. Embora o tratamento farmacológico seja indispensável, cada vez mais estudos destacam o papel da alimentação como ferramenta na modulação da resposta imunológica e no alívio dos sintomas.
Segundo revisão publicada no NI Journal of Research in Medical Sciences, dietas anti-inflamatórias ricas em compostos bioativos podem modular a resposta imune e reduzir a atividade de doenças autoimunes como esclerose múltipla e artrite psoriática.
A dieta tem a capacidade de interferir diretamente em processos envolvidos na autoimunidade, como a produção de citocinas pró-inflamatórias, o perfil da microbiota intestinal, a função da barreira intestinal e o equilíbrio. Nutrientes específicos — como compostos fenólicos, ácidos graxos ômega-3, vitaminas antioxidantes e fibras — apresentam propriedades imunomoduladoras, tornando-se parte fundamental do manejo clínico.
A fisiopatologia das doenças autoimunes envolve a ativação inadequada do sistema imunológico, com produção persistente de células T e B e liberação contínua de citocinas inflamatórias, como TNF-alfa, IL-6, IL-17 e IFN-γ. Esse processo leva ao dano progressivo de tecidos e órgãos, variando conforme o tipo da doença. Nesse contexto, a alimentação pode influenciar diretamente o ciclo inflamatório por meio de seus efeitos sobre a microbiota intestinal, o metabolismo celular e a expressão de genes inflamatórios.
Dietas ricas em alimentos ultraprocessados, açúcares simples, gorduras saturadas e aditivos têm sido associadas ao agravamento de quadros inflamatórios em indivíduos com doenças autoimunes. Por outro lado, padrões alimentares ricos em compostos anti-inflamatórios — como as dietas baseadas em vegetais e a dieta mediterrânea — têm demonstrado impacto positivo em estudos observacionais e clínicos.
A alimentação também modula a integridade da mucosa intestinal, que desempenha um papel indispensável na tolerância imunológica. A disbiose, frequentemente observada em pacientes com doenças autoimunes, pode contribuir para a hiperpermeabilidade intestinal, facilitando o contato de antígenos com o sistema imune e perpetuando a inflamação. A dieta adequada atua como reguladora da ecologia intestinal e da imunidade da mucosa.
O nutricionista pode intervir ao traduzir essas evidências em recomendações práticas, considerando a individualidade do paciente, seu padrão alimentar, realidade social e tipo de doença. Essa intervenção, quando bem conduzida, pode aliviar sintomas, otimizar a resposta ao tratamento convencional e reduzir a frequência de surtos.
Diversos padrões alimentares têm sido estudados como intervenções coadjuvantes no manejo de doenças autoimunes. Destaca-se, em especial, a dieta mediterrânea, graças à sua capacidade anti-inflamatória e imunomoduladora. Rica em vegetais, frutas, grãos integrais, leguminosas, azeite de oliva extravirgem e peixes, essa dieta oferece uma abundância de compostos fenólicos, ácidos graxos insaturados, fibras solúveis e antioxidantes naturais.
Essa abordagem tem sido associada à redução da atividade inflamatória e à melhora da função física em doenças como esclerose múltipla, lúpus e artrite reumatoide. Os compostos alimentares presentes na dieta mediterrânea atuam na modulação da ativação de células T e B, redução da expressão de citocinas inflamatórias e melhoria do perfil antioxidante sistêmico.
A dieta baseada em vegetais, com inclusão de pequenas porções de peixes e ovos, também tem ganhado relevância. Caracteriza-se pela baixa ingestão de carnes processadas, açúcar refinado e gorduras trans, apresentando menor potencial pró-inflamatório e maior densidade nutricional. Além disso, costuma ser bem aceita por pacientes com doenças autoimunes, principalmente devido à melhora de sintomas como dor articular, fadiga e distúrbios gastrointestinais.
Diversos nutrientes apresentam propriedades específicas na modulação da resposta imunológica. Os ácidos graxos ômega-3 estão entre os compostos mais estudados nesse sentido. Presentes em peixes de água fria e em fontes vegetais como chia e linhaça, esses ácidos regulam a função de macrófagos e células T reguladoras, favorecendo a formação de resolvinas e prostaglandinas com menor potencial inflamatório.
A vitamina D é outro nutriente de destaque. Ela influencia diretamente a expressão de genes ligados à inflamação e à diferenciação de células do sistema imune. Pacientes com doenças autoimunes frequentemente apresentam deficiência dessa vitamina, e sua suplementação está associada à redução da frequência de surtos, especialmente em casos de esclerose múltipla.
Outros compostos com ação imunomoduladora significativa incluem a curcumina, quercetina, resveratrol e catequinas. Eles atuam na inibição de vias inflamatórias, reduzem o estresse oxidativo e modulam a microbiota intestinal. Esses compostos podem ser obtidos por meio de uma dieta rica em vegetais, frutas, temperos naturais e chás.
Nutrientes como zinco, selênio, magnésio e vitaminas do complexo B também são essenciais para o funcionamento adequado do sistema imunológico, participando ativamente da produção de anticorpos, replicação celular e neutralização de espécies reativas de oxigênio.
Leia também: Disbiose: o que é e como se Alimentar
Embora muitas evidências sobre nutrição e autoimunidade se concentrem no lúpus, outras doenças como artrite psoriática e esclerose múltipla têm sido foco de pesquisas recentes. No caso da esclerose múltipla, estudos sugerem que a dieta anti-inflamatória melhora a fadiga, favorece a integridade da barreira hematoencefálica e reduz a progressão da incapacidade.
Já na artrite psoriática, a alimentação atua tanto na modulação da inflamação articular quanto na melhora das manifestações cutâneas. A redução do consumo de alimentos inflamatórios — como farinhas refinadas, carnes processadas e bebidas açucaradas — está associada a uma menor severidade da condição. Alimentos com efeito antioxidante contribuem para a redução da dor e da rigidez matinal característica da doença.
A implementação de estratégias nutricionais no manejo das doenças autoimunes exige acompanhamento contínuo e abordagem personalizada. O nutricionista responsável considera não apenas aspectos laboratoriais e fisiológicos, mas também a rotina do paciente, condições emocionais, nível de atividade física e sua relação com a alimentação.
A educação alimentar é indispensável para garantir maior adesão e autonomia. O paciente precisa entender o porquê de cada orientação, sentir-se acolhido e perceber a alimentação como uma aliada — e não como um fator restritivo.
Além disso, o monitoramento de sintomas, exames laboratoriais e indicadores de composição corporal permite a realização de ajustes regulares conforme a evolução clínica. O nutricionista também atua na prevenção de deficiências nutricionais, que podem ser agravadas por dietas mal orientadas ou pelo uso prolongado de medicamentos imunossupressores.
As evidências científicas atuais demonstram que a nutrição desempenha um papel relevante na modulação da inflamação e na resposta imune de pacientes com doenças autoimunes. Padrões alimentares anti-inflamatórios, associados à suplementação estratégica, têm impacto positivo no controle dos sintomas, melhora da qualidade de vida e redução da atividade da doença.
Quer saber como a alimentação pode ajudar a controlar sua doença autoimune? Agende sua consulta e conte com a orientação de uma nutricionista especializada.
Referência:
NIJRMS. (2025). Dietary modulation of autoimmune diseases: Focus on anti-inflammatory and immunomodulatory strategies.
🔗 https://nijournals.org/wp-content/uploads/2025/05/NIJRMS-62-2025-P28.pdf