Cúrcuma e artrite reumatoide: um anti-inflamatório natural

14 de agosto de 2025

 

A artrite reumatoide é uma doença autoimune progressiva e crônica, caracterizada por uma inflamação sistêmica que afeta as articulações sinoviais. Esse processo inflamatório provoca dor, rigidez matinal, inchaço e, com o avanço da doença, pode levar à degeneração articular. Essa condição compromete significativamente a qualidade de vida e requer acompanhamento contínuo.

O tratamento convencional envolve o uso de anti-inflamatórios não esteroides, corticosteroides, agentes biológicos e imunossupressores. Apesar de apresentarem bons resultados, esses medicamentos têm efeitos adversos, como alterações gastrointestinais, imunológicas e hepáticas, exigindo uma abordagem terapêutica individualizada.

Diante desse cenário, algumas alternativas terapêuticas vêm ganhando espaço, principalmente os compostos naturais que auxiliam no combate à inflamação. A cúrcuma, muito utilizada na medicina tradicional indiana e chinesa, vem sendo estudada graças ao seu potencial no controle da inflamação em diversas doenças, como a artrite reumatoide.

O principal composto ativo da cúrcuma, a curcumina, demonstrou excelentes efeitos anti-inflamatórios e imunomoduladores em estudos clínicos. Mas quais as evidências científicas que sustentam o uso dessa substância no tratamento da artrite reumatoide?

O que é a cúrcuma e por que ela é relevante para a artrite reumatoide?

A cúrcuma é uma planta da família Zingiberaceae, a mesma do gengibre. Seu rizoma possui uma coloração característica e é rico em compostos fenólicos, sendo a curcumina o mais estudado por suas propriedades medicinais. Tradicionalmente utilizada como condimento e corante, seu uso terapêutico ganhou destaque nas últimas décadas.

A curcumina tem sido apontada como um potente anti-inflamatório natural. Essa substância atua na modulação de várias vias inflamatórias, como a inibição do fator de transcrição NF-κB e da expressão de citocinas pró-inflamatórias como TNF-α, IL-1β e IL-6.

Além disso, estudos demonstram que a curcumina exerce efeito antioxidante, reduzindo o estresse oxidativo nas articulações inflamadas — um dos principais fatores que contribuem para o dano articular progressivo da artrite reumatoide. Essa característica sugere que ela pode não só aliviar os sintomas, como também atuar na prevenção da progressão da doença.

Embora a substância tenha efeitos promissores, ela apresenta baixa biodisponibilidade oral, o que limita sua ação terapêutica. Para contornar esse problema, são utilizadas formulações com piperina ou tecnologias de liberação controlada, que permitem um aumento significativo de sua absorção pelo organismo.

O que dizem os estudos científicos?

Um ensaio clínico randomizado conduzido por Chandran e Goel (2012) avaliou a ação da curcumina em 45 pacientes com artrite reumatoide ativa. Os participantes foram divididos em três grupos: curcumina isolada, diclofenaco sódico e uma combinação de ambos. O grupo tratado apenas com curcumina apresentou a maior redução na atividade da doença, além de não apresentar efeitos adversos.

Em 2016, Daily et al. publicaram uma revisão sistemática e meta-análise no Frontiers in Pharmacology, reunindo dados de estudos clínicos sobre a ação da curcumina em doenças articulares. O estudo concluiu que a suplementação com curcumina proporcionou alívio significativo da dor e da inflamação em pacientes com artrite, com eficácia comparável à de anti-inflamatórios convencionais e melhor perfil de segurança.

Outro estudo, publicado por Amalraj et al. (2017), avaliou pacientes com artrite reumatoide. Os resultados evidenciaram uma redução considerável nos marcadores inflamatórios (PCR e VSG), melhora da mobilidade articular e menor rigidez matinal após 12 semanas de uso.

Dessa forma, é possível entender que esses estudos reforçam a hipótese de que a curcumina pode ser um valioso aliado no tratamento coadjuvante à terapia convencional da artrite reumatoide. Contudo, os autores ressaltam a importância da padronização da dosagem e do tempo de intervenção para garantir que o paciente alcance os melhores resultados com segurança.

Como interpretar esses resultados?

Apesar dos dados promissores, a interpretação dos resultados deve considerar algumas limitações metodológicas. Amostras pequenas, ausência de grupos placebo e curto tempo de acompanhamento podem interferir na robustez das conclusões.

A curcumina parece agir mais como um regulador da inflamação do que como um supressor direto do sistema imunológico. Isso significa que, diferentemente dos medicamentos imunossupressores, ela consegue modular a resposta inflamatória sem comprometer a defesa imunológica do organismo.

Contudo, o uso isolado da curcumina não deve substituir a terapia medicamentosa em pacientes com artrite reumatoide ativa. Seu papel deve ser entendido como complementar, sempre sob supervisão de profissionais de saúde capacitados. Automedicação, mesmo com substâncias naturais, pode gerar riscos.

Para otimizar os benefícios terapêuticos, a prescrição da curcumina deve ser personalizada. A formulação, interações medicamentosas, estado nutricional e gravidade da doença devem ser avaliados, pois são determinantes para a eficácia do tratamento.

Como aplicar na nutrição clínica?

A cúrcuma pode ser introduzida tanto na forma alimentar quanto por suplementação. Na dieta, pode ser adicionada a preparações como arroz, sopas, legumes e chás — sempre associada à pimenta-do-reino para melhorar a absorção. Ainda assim, as concentrações obtidas por meio da alimentação são insuficientes para efeito terapêutico.

Na prática clínica, a suplementação é a abordagem mais indicada, utilizando cápsulas padronizadas com alta biodisponibilidade. As doses terapêuticas sugeridas variam entre 500 mg e 1000 mg de curcumina por dia. O uso deve ser feito com acompanhamento nutricional e médico, sendo monitorado quanto a efeitos e benefícios.

Além disso, a curcumina pode ser incorporada a estratégias anti-inflamatórias que envolvem a redução do consumo de ultraprocessados, o aumento do consumo de peixes ricos em ômega-3, frutas vermelhas, azeite de oliva, entre outros alimentos. O uso conjunto dessas práticas potencializa os efeitos terapêuticos da cúrcuma.

O papel do nutricionista nesse processo é fundamental. Tanto na escolha das formulações quanto na educação alimentar do paciente, o acompanhamento contínuo permite ajustes e garante segurança no uso de compostos bioativos como a curcumina.

Conclusão

A cúrcuma, especialmente por meio da curcumina, apresenta evidências científicas promissoras como agente modulador de processos  inflamatorios e pode ser um complemento no tratamento da artrite reumatoide. Sua ação moduladora sobre citocinas inflamatórias, aliada a um bom perfil de segurança, justifica seu uso clínico desde que bem orientado.

Contudo, o uso da substância deve ser feito com responsabilidade e sempre levando em consideração as necessidades individuais do paciente. A suplementação precisa ocorrer com formulações apropriadas, preferencialmente sob orientação profissional.

A combinação da curcumina com estratégias alimentares anti-inflamatórias oferece um plano terapêutico abrangente, valorizando o papel da nutrição na modulação de doenças autoimunes. Essa abordagem fortalece a autonomia do paciente e melhora sua qualidade de vida.

Por essa razão, a integração da cúrcuma à prática clínica deve ser feita com base em evidências, de forma segura e personalizada, promovendo a saúde articular sem comprometer o bem-estar do paciente.

 

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Referências Bibliográficas

  1. //Chandran B, Goel A. (2012). A randomized, pilot study to assess the efficacy and safety of curcumin in patients with active rheumatoid arthritis. J Clin Rheumatol, 18(3):133-137. https://pubmed.ncbi.nlm.nih.gov/22407780/

  2. Daily JW, Yang M, Park S. (2016). Efficacy of Turmeric Extracts and Curcumin for Alleviating the Symptoms of Joint Arthritis: A Systematic Review and Meta-Analysis. Front Pharmacol, 7:152. https://pubmed.ncbi.nlm.nih.gov/27340347/

  3. Amalraj A, Pius A, Gopi S, Gopi S. (2017). Biological activities of curcumin and its analogues (Congeners) made by man and Mother Nature: A review on curcumin analogues. Curr Pharm Des., 23(9):1063–1090. https://doi.org/10.2174/1381612822666161214152613

 

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